Mais uma vez sinto vontade de escrever, estou esperando chegar à idéia certa, e jurando que ela virá começo a escrever. Lokahi continua rolando no mídia player, e a única coisa que me vem na mente e a imagem de Getúlio, aquele morador de rua que foi pai da Ana Flavia e da Jessica (ou algo parecido), já são 02h02min e agora o que tenho são as lembranças do primeiro encontro que tive com ele, as historias contadas de como foi preso pela terceira vez, e de onde era sua nova morada (um ponto de ônibus abandonado bem próximo a rodoviária), que é muito melhor que a jaula onde estava na noite anterior. Getúlio a todo o momento falava de suas filhas. Algumas promessas lhe foram feitas que encontraríamos suas filhas.
Me lembro como se fosse hoje do rosto frustrado de Getúlio por ainda não termos encontrado suas filhas sete dias após as promessas mal sucedidas de encontra-las, seu rosto estava magro, o crack já o dominava e estava mais descontraído. Brinquei sobre uma droga que usei, que me deu uma noia eterna,ele riu
Agora esta tocando um Jude Airplane, forço a memória para me lembrar de cada detalhe de meu ultimo encontro com Getúlio. Sim! Lembro-me! Seu rosto estava muito machucado, havia tomado uma pedrada de outro morador de rua por razões desconhecidas, falava somente em vingança, estava convicto, irremediável. Não se lembrava do meu nome, e ele tinha me prometido que não esqueceria, não o cobrei tanto, pois estava bem claro o efeito das drogas em seu raciocínio. E esse foi meu ultimo encontro com ele, em uma quinta feira por volta das 01h30min da madrugada.
Quinze dias depois, no noticiário falou sobre um morador de rua ter sido assassinado com uma facada no pescoço enquanto dormia. E foi assim com uma faquinha de pão em seu pescoço que Getúlio saiu da vida para entrar na minha historia.
PS: Getúlio e um nome inventado, mas infelizmente a historia e real
Ass:@DoniFilho